Quinta geração de rede móvel é tão disruptiva que irá viabilizar parte dos sonhos de um futuro automatizado e conectado
Quase todo mundo já deve ter ouvido falar sobre a tão sonhada tecnologia 5G e como a novidade tem potencial para transformar o mundo tecnológico que conhecemos. Mas quais são, de fato, seus diferenciais em relação aos antecessores e como o mercado está enxergando essa perspectiva de mudança?
Vivemos hoje a era da transformação digital, que tem sido muito mais benéfica do que se imaginava. Você se lembra como era dirigir sem um aplicativo que indica os caminhos? E tentar se deslocar pela cidade sem os apps de mobilidade urbana? Ainda tem na memória como era assistir a uma série antes das plataformas streaming ou acessar sua conta no banco sem o Internet Banking? Com a tecnologia, tudo isso virou passado. E sabe o que todas essas novidades têm em comum? A conectividade!
Estar conectado é hoje uma das coisas mais fundamentais para os seres humanos. Prova disso é que o número de celulares ativos no Brasil supera o de habitantes, como mostra um recente estudo da FGV. A estatística não é diferente em outras partes do mundo. Somente no ano passado foram vendidos 1,43 bilhões de smartphones em todo o globo, totalizando mais de 8 bi de SIMs ativos, valor que ultrapassa os 7,7 bilhões de habitantes estimados pela ONU em abril deste ano.
Para atender à enorme quantidade de dispositivos conectados e sua crescente demanda, as empresas de Telecom precisam fazer bem mais do que apenas projetos de expansão em sua estrutura atual. Essas organizações necessitam desenvolver uma infraestrutura que seja capaz de suportar ainda mais dispositivos conectados, fornecendo mais velocidade, segurança e confiabilidade. Isso é viável graças à possibilidade de diferenciação por camada, permitindo que as operadoras consigam identificar e classificar determinado tráfego dentro do seu fluxo de dados e priorizar aplicações críticas, como cirurgias remotas.
É exatamente essa a promessa do 5G, que chega a ser 100 vezes mais rápido do que outras redes, alcançando velocidade de 10Gb/s. Também permite um número muito maior de dispositivos conectados simultaneamente sem que haja perda na qualidade do serviço, devido ao seu funcionamento em novas bandas de espectro.
A quinta geração de rede móvel é tão disruptiva que irá viabilizar parte dos sonhos de um futuro automatizado e conectado. Alguns ainda distantes, como carros autônomos, mas outros muito mais próximos do que imaginávamos, como as cirurgias remotas. A primeira delas, aliás, foi realizada durante o Mobile World Congress, principal evento sobre telefonia e tecnologia móvel, que aconteceu em fevereiro deste ano em Barcelona, na Espanha.
Antonio de Lacy, chefe de cirurgias gastrointestinais do hospital Clínic de Barcelona, coordenou, ao vivo, utilizando uma conexão 5G criada especialmente para o teste, um procedimento para remover um tumor e tecidos adjacentes do intestino de um paciente voluntário. Ele comandou remotamente uma equipe composta por três cirurgiãs, duas enfermeiras e dois anestesistas. Com uma tela touch screen, via exatamente o que os médicos faziam dentro do paciente e rabiscava sobre a imagem, fazendo indicações que apareciam em uma TV instalada na sala de cirurgias.
Para que esses experimentos se tornem parte do dia a dia, é necessário um grande investimento tanto do lado das operadoras – com aquisição de equipamentos físicos, softwares e serviços para o funcionamento dessa estrutura –, como do lado dos consumidores, que vão precisar comprar dispositivos compatíveis com as frequências utilizadas pelo 5G. Esta demanda que o mercado de Telecom está gerando traz como resultado excelentes oportunidades, além de acirrar a concorrência entre empresas que fornecem equipamentos, software e serviços para operadoras; e também entre as grandes fabricantes de celulares.
Só para se ter uma ideia de quanto este mercado deve movimentar nos próximos anos, um estudo feito pela Greensill, empresa que fornece capital de giro para a indústria, estima que serão investidos cerca de U$ 2,7 trilhões na tecnologia 5G até final de 2020. Este é o custo global do investimento em infraestrutura para a quinta geração de rede móvel e na habilitação da chamada Internet das Coisas (IoT).
No Brasil, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) deve realizar o leilão das faixas de frequências necessárias para o funcionamento do 5G em março de 2020. Mas a implementação da quinta geração pode esbarrar em limitações técnicas em diversas regiões do país, caso a agência não reorganize a distribuição da faixa mais baixa (3,5 GHz), que hoje em dia destina-se a serviços de transmissão de TV-RO (antenas parabólicas).
A expectativa para começar a comercialização de planos de telefonia 5G aos consumidores finais por aqui fica apenas para 2021. Até lá, as empresas podem investir na modernização de suas infraestruturas atuais, buscando otimização de custo e melhorias, como a virtualização da rede, apostando em tecnologias como SDN (Software Defined Network) e NFV (Network Function Virtualization). E quando o 5G finalmente chegar, esperamos que ele seja tão bom quanto o prometido e anunciado.
*Weslley Rosalem é Arquiteto de Soluções na Red Hat, responsável pela construção de soluções baseadas nas necessidades do negócio, atua principalmente com clientes estratégicos da indústria de Telecom, com foco nas tecnologias e produtos de Storage, Cloud Computing e NFV.
Este artigo também foi publicado pela Computer World em 14/08/2019 . https://computerworld.com.br/2019/08/14/redes-5g-quais-sao-as-perspectivas-e-oportunidades-para-o-brasil/